Lian Gaia abriu o especial “Falas da Terra”, que será reexibido neste sábado
Quem assistiu ao especial “Falas da Terra”, exibido pela Rede Globo na última segunda-feira (19), deu de cara com uma atriz indígena logo na abertura. Coube a ela no programa, com voz forte e altiva, iniciar o diálogo que contrapõe a história formal, contada pelos brancos sobre o processo histórico brasileiro. Quem se aprofundar na busca por informações vai descobrir uma ligação íntima entre aquela atriz e a Paraíba. Trata-se de Lian Gaia, de 29 anos, bisneta do líder camponês João Pedro Teixeira, assassinado em Sapé, em 2 de abril de 1962. O especial “Falas da Terra” será reapresentado neste sábado (24), às 6h da manhã.
Sim, a escolha de Lian Gaia para o papel não poderia ter sido melhor. Ela resume bem a história da miscigenação e desigualdade brasileira. Descende de um líder das Ligas Camponesas que era negro. Elizabeth Teixeira, a avó, é branca. É descendente, também, de José Mendes de Araújo, homem indígena amazonense retirado de sua aldeia para o contexto urbano do Rio de Janeiro. Com isso, nascida na Baixada Fluminense e formada em psicologia, a atriz carrega nas veias a história de luta dos povos originários e negros contra a exclusão e o preconceito.
Em casa, certamente, se acostumou a ouvir as histórias de discriminação e perseguição praticadas contra seus antepassados. João Pedro Teixeira era de Sapé e foi assassinado depois de contrariar interesses dos latifundiários. Morreu com os livros que foi comprar para um dos filhos em João Pessoa. Os mandantes nunca foram punidos. A história dele e de Elizabeth Teixeira é contada no festejado documentário “Cabra Marcado Para Morrer”, de Eduardo Coutinho.
Apesar de se identificar como índia, Gaia vive um processo parecido com o de muitos indígenas desaldeados. Ela é acolhida pelos Pataxó e Guajajara, que compreendem a opressão enfrentada pelos indígenas sem suas identidades e territórios. No especial da TV Globo, ela conta uma história que ilustra a de muitos indígenas. “Meu nome é Lian Gaia. Eu sou indígena, acolhida por diversas etnias, pois assim como vários parentes eu não sei ao certo qual é a minha, já que minha mãe não fala mais a sua língua”, diz.
Gaia resgata e manifesta suas origens em trabalhos artísticos que autoproduz como “A Princesa Sem Terra” e “Floresta” e continua a luta que diz ter como herança de sua família. A atriz indígena traz questionamentos importantes com a retomada (movimento de resgate identitário das origens indígenas), luta do movimento sem terra e o protagonismo da mulher indígena no cinema e Tv de modo global. A atriz desenvolve ainda um projeto de escuta coletiva e militância junto a um grupo de pessoas indígenas de todo o país.
Assista ao especial Falas da Terra:
Confira link também para o documentário Cabra Marcado para Morrer, do cineasta Eduardo Coutinho:
Por Suetoni Souto Maior com edição do Portal GPS.
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