Há 60 anos, ocorria a “chacina de Mari”, iniciada com o assassinato de Galdino, então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
MARI-PB, 15 DE JANEIRO DE 1964
As Ligas Camponesas eram muito atuantes no município de Mari, na Paraíba, na primeira metade da década de 1960. No Sindicato Rural de Mari, as ligas ajudaram os lavradores a reconhecer seus direitos “na letra da lei” e a lutar para que fossem aplicados.
Em janeiro de 1964, trabalhadores das terras do usineiro Nezinho de Paula resolveram adiantar a semeadura, pois as chuvas daquele ano haviam se antecipado. O trabalho transcorria pacificamente, quando foram surpreendidos por empregados da usina e policiais militares fortemente armados que procuravam por Antônio Galdino, presidente do sindicato. Ao se apresentar, Galdino foi metralhado.
Imediatamente os camponeses passaram a se defender com seus instrumentos de trabalho. No final do confronto, onze pessoas estavam mortas, entre camponeses, empregados da usina e policiais.
Como a maioria das mortes havia sido do lado do usineiro, ele aproveitou a ocasião e foi à capital do estado exigir do governador, Pedro Gondim (PSD), uma reação enérgica contra o ataque de que fora vítima. E ela veio rapidamente, depois da tragédia de Mari, a repressão às Ligas Camponesas tomou forma legal, ganhou um plano disciplinar e culminou com o envio de tropas policiais às regiões interioranas.
Como se deu o conflito
No dia 15 de janeiro de 1964 pela manhã, Galdino, junto com seus companheiros tentaram mobilizar trabalhadores camponeses das Fazendas Olho d’ Água e Santo Antônio (ambas localizadas em Mari) para participarem do mutirão a ser realizado naquele dia. Ao chegarem à Fazenda Santo Antonio, Galdino e seus companheiros foram recebidos com violência pelo administrador da Fazenda – Arlindo Nunes da Silva – que portava um revólver Smith e Wesson-Calibre 45 (revólver do Exército Brasileiro). Na ocasião houve uma violenta discussão, sendo o administrador da fazenda rendido pelos trabalhadores, os quais desamarram-no e penduraram um chocalho (símbolo do traidor da luta dos trabalhadores) em seu pescoço antes de libertá-lo, ficando o revólver nas mãos de Galdino.
O latifundiário e usineiro Renato Ribeiro Coutinho, conhecendo a gravidade da situação, já que a arma que o administrador da fazenda portava era de uso exclusivo do Exército Brasileiro, mandou uma comitiva armada para procurar Galdino e exigi a devolução do revólver. O local da entrega foi ás margens da PB 08, onde se encontrava um mutirão, aproximadamente 350 homens – camponeses, dentre eles Galdino, plantando pacificamente.
O confronto resultou em 11 mortos e 4 feridos , dentre eles, camponeses, soldados e funcionários da Usina São João.
O evento ocorrido não pode ser minimizando a um caso isolado e relacionado apenas a entrega de uma arma. A chacina de Mari se deu diferente da chacina de Eldorado dos Carajás. A chacina de Mari foi em virtude de uma arma privativa das Forças Armadas na mão de um administrador de fazenda. Era o maior escândalo que poderia acontecer naquela época.
Com o desaparecimento de uma arma privativa do exército (Smith Wesson calibre 45), originariamente de propriedade do industrial Flávio Ribeiro Coutinho e na oportunidade conduzida por um seu funcionário, Flávio Ribeiro queixou-se ao Governador Pedro Gondim que de imediato ordenou diligências para recuperação do artefato.
Fernando Gouveia, contador das empresas Flávio Ribeiro, em companhia de mais umas três pessoas, não quis esperar pelas providências do poder público e achou por bem, ele mesmo, enfrentar mais de trezentos ruralistas que faziam um mutirão na fazenda palco do massacre, e tentar resgatar o revólver desaparecido. O final, como era de se esperar, foi a morte de mais de uma dezena pessoas. No inditoso episódio Fernando Gouveia foi morto atingido por um golpe de enxada na cabeça.
Os principais jornais da época culpavam os camponeses pelos conflitos no campo, propondo um discurso de anticomunismo no meio rural. Dentre os jornais que seguiam nessa linha estavam o A Impressa e o Jornal A União. A proposta dos jornais seguia uma lógica de manipulação da informação, colocando os camponeses como os responsáveis pelos conflitos, defendendo a estrutura agrária do país, bem como os latifundiários e acusando os camponeses de pregar o comunismo no campo. Ou seja, como ainda hoje ocorre, a mídia a serviço do latifundiário, do Estado e do capital, distorcendo a opressão sofrida pelo camponês e manipulando a opinião pública.
Pesquisa: Portal GPS.
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Eu sou bisneto de Fernando Gouveia e luto diariamente contra os grupos ruralistas ligados a organizações Comunistas no Brasil. Foi uma tragédia o que aconteceu, meu bisavô de nada teve culpa e foi morto pelos camponeses, fico bem em saber que muitos foram perseguidos pela ditadura.