Definitivamente temos de encontrar um novo modelo de gestão humana para a nossa convivência. Tudo parece moderno, mas vivenciamos um paradoxo irremediável: não sabemos aproveitar a modernidade, disponibilizada pelas mentes brilhantes da nossa ciência e tecnologia. Brincamos de “faz de conta”. O mundo exauriu sua gestão.
Devagar, devagarinho, vamos abraçando ideias, conceitos e paradigmas. Aí todas as esferas da convivência humana sentem o impacto desse movimento irreversível. A família, o trabalho, a escola, o clube, a rua, a política, a sociedade em geral, enfim, todos estão envolvidos no processo.
A família, constituída nos moldes tradicionais, tem idade bíblica. Ela sobreviveu a gerações, mas chegou ao fim da linha. Os pensamentos modernos relegaram-na a segundo plano. Não se concebe mais o modelo patriarcal que se reunia na sala para bater papo, certo que oprimindo as crianças, às quais não tinham o direito de abrir a boca. “Onde tem adulto, criança não pode falar”. Que absurdo! Ainda bem que esse comportamento foi enterrado pela evolução dos relacionamentos familiares.
Nostálgica a minha posição, mas tenho saudade da família reunida, brincando e se relacionando entre seus membros. A família demanda um novo modelo de gestão, preservando, no entanto, a sua essência conceitual. A família exauriu sua gestão.
No trabalho, ah, no trabalho! Quantos tapetes puxados! Quantos “puxa-sacos” usando meios esdrúxulos para subir degraus dentro da hierarquia corporativa! Sempre tive aversão a “bajuladores”. Hoje, dentro de uma nova concepção de vida, eles já não me constrangem. O pior é que eles têm conseguido o seu intento, quando, quem os avaliam carecem de uma massagem de ego, mesmo sabendo-se que a postura do dito cujo é de conveniência. O trabalho precisa de uma nova gestão, principalmente de relacionamentos. O trabalho exauriu sua gestão.
A escola. Essa? Coitada, é mal tratada pela maioria. Governos que não a priorizam, pais e alunos descompromissados, professores mal pagos, mal capacitados e desmotivados, ganância do capitalismo carrasco, onde os valores analisados na “Teoria da mais Valia”, são disparadamente em favor do empresário ganancioso. O Max revira-se no túmulo diante de tanta exploração da força de trabalho, responsável real pela lucratividade das empresas e tão pouco recompensada. Tapinha nas costas, escolha do “funcionário do mês”, esses são instrumentos enganadores, no nosso entendimento. A escola demanda uma nova gestão em sua formatação. A escola exauriu sua gestão.
O Clube, aqui simbolizado pelo local do merecido laser, também merece uma nova gestão. O governo poderia distribuir melhor o imposto que arrecada, pensando, também, no laser da classe menos favorecida. Que tal um clube de apelo popular, com regras de uso definidos e programa de educação de uso e manutenção do patrimônio público? Os clubes precisam de um modelo de gestão inclusivo. O clube exauriu sua gestão.
A rua. Considero a rua um espaço de desenvolvimento humano fora de série. Somos saudosistas sim, sem nenhum acanhamento. Fui menino de rua numa versão positiva. Brinquei na rua, criei amizades, aprendi no cotidiano. Hoje a rua é patrimônio privativo da bandidagem. “Isso já não te pertence mais”. Ela já não é local onde se possa transitar com tranquilidade. As calçadas, maltratadas pelo poder público e pela ganância empresarial, tornou-se um local inacessível a muitos. E os cadeirantes? Esses sofrem o “pão que o malfeitor amassou”. A rua reclama por um novo modelo de gestão. A sua gestão se exauriu.
A política. Essa merece um capítulo especial. O nosso sistema político é um moribundo ancião que teima em sobreviver. Também, o remédio que a mantém viva e causando estragos consideráveis é uma classe legislando em causa própria. O que se esperar de um conjunto de leis que aplacam interesses acentuados. Leio que casos de corrupção nos EUA têm desfecho rápido e rigoroso. Isso porque a Lei lá é boa, e aplicada dentro dos rigores que os casos exigem. Aqui, até a nossa Carta Magna deixa brechas para interpretações dúbias. Os poderes, que deveriam ser harmônicos e independentes entre si, usurpam atribuições de outro poder e aí o preceito constitucional é ignorado de maneira escancarada. Aqui, um malfeitor rir da cara de todos nós, pousando de “paladino do direito”. Usando de artimanhas, consegue arrastar as soluções políticas e jurídicas para onde ele quer. A questão é quem vai formatar a nova gestão demandada. Parece que a ninguém interessa mudar esse quadro. Governo mentiroso, oposição mesquinha e oportunista e que “só pensa naquilo”: ocupar o poder mesmo que os fins não justifiquem os meios. Uma nova gestão aqui é premente. A gestão política se exauriu.
A sociedade é demandante de um novo modelo de gestão. Ela morde e assopra. Uma hora se posiciona pelo bem estar de todos, de repente, como num passo de mágica, defende a lei de talião. Ela enraizou um ódio disfarçado e cria uma barreira intransponível que obstaculiza o convívio fraterno. Uns se acham no direito de interferir nas escolhas alheias, sejam no campo político ou nas escolhas sexuais, como se a maneira de viver das pessoas e as suas preferências causassem prejuízos a si próprios. Fico procurando uma lógica pra isso e não encontro. A não ser tratar-se de uma patologia camuflada. Os defensores ferrenhos dos seus direitos se acham no direito de interferirem no direito de outrem. A sociedade exauriu sua gestão.
O mundo exauriu sua gestão. Outro modelo de relacionamento precisa ser implantado. É preciso elaborar um PDCA da gestão humana, aqui figurando as causas e um antídoto para uma questão que tanto mal tem causado ao povo que é a famigerada corrupção, que parece foi desmascarada e já não habita mais em um só ambiente, no caso o político, como era o pensamento de todos. Esse câncer se alastrou nas diversas esferas da sociedade mundial, e não dá mais para debitar essa conta, em sua totalidade, nos ombros dos políticos. Existe uma grande cortina de fumaça e a sociedade, numa grande maioria, embrenhou-se na busca de benefícios fáceis e antiéticos. É claro que temos exceções. Ainda temos pessoas de bem e essa é a nossa esperança de dias melhores.
Ao preparar o fechamento do presente escrito, deparo-me com uma situação inusitada que, se formos parar para pensar, chega a ser revoltante. Trata-se do Museu do Amanhã, recém-apresentado ao carioca, com os seus problemas estruturais e mazelas expostos como uma vala comum. Sim, porque aquilo é um acinte, uma afronta ao povo diante do leque de problemas que catalogamos. O dinossauro arquitetônico, que custou a bagatela de 230 milhões, é um espelho vistoso que reflete uma imagem quebrada de uma cidade com sérios problemas na saúde pública e na segurança. Hospitais sucateados e o governador Pezão aparece, no mesmo grupo de reportagem e na mesma data de inauguração do projeto intergaláctico, para dizer que precisa de 300 milhões para reabrir a emergência médica da cidade maravilhosa. Que contra censo! É a velha estória: compramos pratos de ouro, mas não temos o dinheiro para comprar a comida. Ironicamente chegou o Museu do Amanhã e saiu o Museu de Hoje, o da língua portuguesa localizado no velho prédio da estação Luz, em São Paulo, destruído fogo.
O mundo exauriu sua gestão. É preciso escrever uma nova história. Resta saber quem vai ser o escritor que vai dar o pontapé inicial rumo a essa demanda. Não podemos continuar nos sufocando com as armas que dispomos que é a incompetência da sociedade mundial para resolver as suas questões. O Museu do Amanhã é mais um paradoxo da realidade de hoje. É preciso olha para o “museu” da miséria e do pouco caso. Cabe a nós não embarcar na onda da modernidade enquanto as necessidades básicas não forem são supridas.
O mundo exauriu sua gestão.
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