PONTO DE VISTA
Por JOSÉ RICARDO 02.09.2020
Vejo noticiários de mortes de famosos pelas redes sociais e sinto um incômodo humano enorme, porquanto as pessoas estão ávidas por holofotes midiáticos e acham que isso deve ser a regra. Uns exageram na dose da hipocrisia encontrando adjetivos e qualificações que o morto não tinha. Ah, temos de ter empatia. Essa é a expressão do momento. O modismo brasileiro. Vale destacar que não sou contra nem a favor dessa postura, pois não vejo esse assunto como um fato plebiscitário que deve ser levado à apreciação popular. A morte de um ser humano, por si, já requer o respeito ao luto de familiares e amigos e para isso é desprezível certas atitudes sensacionalistas que fazem da morte um espetáculo de horror camuflado.
A recente morte do astro cinematográfico Chadwick Boseman foi motivo das cobranças insanas de pessoas das redes sociais no sentido de que os amigos do astro não se posicionaram, pelas redes sociais, sobre o prematuro desaparecimento do ator. Para alguns, amigos do falecido deveriam vir a público e externar a sua dor e sentimentos, como se isso só tivesse valia se fosse objeto de publicidade e ações de marketing que visam levar o produto ao conhecimento e aceitação do público consumidor.
Acho essa uma postura questionável, pois não devemos julgar os verdadeiros sentimentos dos amigos do astro sem antes conhecer a sua dor e respeitando o seu luto. Não, para os críticos da boçalidade, tudo se resume no interior de uma bolha cibernética e o que ocorre fora disso não tem nenhum valor. Num paradoxo do que defendo acima, acredito que a empatia, no momento, é um artigo de luxo não encontrado em qualquer prateleira. As pessoas preparam suas artilharias verbais e aí o respeito pelos sentimentos alheios vão para o lixo, pois o que vale é a manifestação através da internet, pois aí daria mais visibilidade, não importando a sinceridade da manifestação.
Temos muita coisa a combater, mas nem tudo está errado. Tem gente que pode até criticar a nossa posição, mas tem outro tanto que concorda com o nosso questionamento. Então, vamos continuar cuidando de temas polêmicos, esperando que as coisas se ajustem dentro da sensatez, principalmente quando se tratar de temas do relacionamento humano.
A dor da perda se sobrepõe às hipocrisias. “Pantera Negra” você não precisa de propaganda fúnebre, pois brilhou em vida e deixou um legado positivo de perseverança e otimismo. Os seus amigos, com certeza sentem a sua falta e para demonstrar isso não há necessidade de exposição medíocres fantasmagóricas que embebedam os hipócritas.
- TEM DOR QUE É SÓ DA GENTE - 7 de setembro de 2020
- UM PAI PRESENTE É UM PRESENTE DO PAI - 12 de agosto de 2020
- O DESEMBARGADOR DA VERGONHA - 21 de julho de 2020