Nego Fuba e Pedro Fazendeiro foram os primeiros camponeses desaparecidos durante a ditadura. Veja todo o contexto histórico de 21 anos de ditadura militar e as drásticas consequências na história de Sapé
Por Jorge Galdino – Jornalista
No Brasil de1964, os militares derrubam o presidente João Goulart (Jango) e assumiram o poder. Um golpe ensaiado por pelo menos dez anos. O golpe envolve o governo norte-americano, a elite econômica e política brasileira, militares e militantes políticos e chega a Sapé, na Paraíba, durante o surgimento das Ligas Camponesas, em um cenário de assassinatos, como o do líder camponês João Pedro Teixeira em 1962, e desaparecimentos, como os do então vereador Nego Fuba e de Pedro Fazendeiro, que se tornaram os primeiros camponeses desaparecidos durante a ditadura militar.
Os militares chegaram até a criar presídios indígenas, implantaram a censura como forma de esconder as graves violações aos direitos humanos e instituíram a tortura como método de interrogatório. “Desde a década de 50, há a formação no país de uma articulação militar e civil que sucede a 2ª Guerra e que é anti-getulista, que tem a intenção de não permitir, de afastar, de atrasar a entrada do povo, das massas, na política”, afirma a integrante e ex-coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Maria Cardoso.
As reformas de base propostas por Jango são aplaudidas pelos sindicatos e ligas camponesas, organizações que vinham ganhando força no início dos anos 60. Para Raphael Martinelli, ex-dirigente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), as reformas “eram coisas que a sociedade estava pedindo, e o Jango estava acompanhando e cedendo democraticamente. Ninguém tinha a intenção de tomar o poder.”
As atitudes do presidente eram vistas como uma ameaça por uma parcela da sociedade. “Houve um clamor popular, da imprensa, da igreja, dos partidos políticos, exigindo que se desse um fim àquela situação anormal que o país vivia. Tínhamos centenas de greves por ano, a economia se descontrolando totalmente”, justifica o general Bandeira, do exército.
No mundo dividido pela Guerra Fria, os Estados Unidos tinham planos para blindar a América Latina contra o comunismo e deram suporte ao golpe militar no Brasil. “O grande triunfo de João Goulart foi não ter resistido, não ter conduzido o país a uma guerra civil fratricida, com a quarta frota americana dentro da costa brasileira, com o governo americano pronto pra reconhecer o governo mineiro e se preparar para uma luta prolongada e inclusive a divisão territorial do nosso país”, afirma João Vicente Goulart, filho de Jango.
Em Sapé, as lideranças camponesas questionavam, sobretudo, o cambão – obrigação de trabalhar alguns dias de graça na propriedade de fazenda. Em 1961, após resistir à desocupação das terras que ocupava com a mulher e os filhos, João Pedro Teixeira tornou-se alvo de represálias violentas, que incluíam tiros frequentes contra sua casa. Vice-presidente das Ligas de Sapé, ele acabou assassinado em abril de 1962 a mando dos fazendeiros Agnaldo Veloso Borges e Pedro Ramos Coutinho, que pretendiam assim intimidar as lideranças camponesas da Paraíba.
A luta da associação, entretanto, continuou sob a liderança de João Alfredo Dias (Nego Fuba), Pedro Inácio de Araújo (Pedro Fazendeiro) e a viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira. Ao contrário do que esperavam os mandantes do crime, o movimento se fortaleceu e, revoltados com a execução, centenas de lavradores se associaram à Liga Camponesa de Sapé, que totalizaria mais de 7 mil filiados.
A população da Paraíba assistiu a uma mobilização sem precedentes, capaz de contestar, de forma organizada o poder dos latifundiários do estado. O golpe civil-militar de 1964, no entanto, desarticulou as Ligas de Sapé, cujos líderes foram presos e, alguns, assassinados.
O vídeo produzido pelo Programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, lembra fatos que marcaram essa história e mostra como era o país antes e logo depois do golpe. Também investiga a resistência civil e a repressão na cidade e no campo. Militares que participaram dos órgãos de repressão fazem revelações sobre tortura e mortes de militantes. Pessoas que lutaram pela democracia contam das marcas do passado e do desejo de reparação. A reportagem é de Ana Graziela Aguiar, com imagens de André Pacheco, Geylson Paiva, José Carlos Soares, Jorge Brum, Marcelo Magalhães, William Sales e produção de Mariana Fabre e Beatriz Abreu.
Da Redação do Portal GPS com informações da TV Brasil.
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