A necessidade do isolamento social de adesão mundial, embasado em dados científicos e da OMS, traz inquietações justificáveis porquanto no sistema capitalista adotado praticamente em todos os países, cada um tem de buscar a sua sobrevivência e aí estamos inseridos numa batalha, que por vezes se apresenta desumana e desigual, face os matizes da desigualdade causada pela supremacia das classes sociais mais abastardas que estão no topo da pirâmide social e que vendem caro essa posição de topo.
Tenho viés comunista? Não! A visão míope de intérpretes rasos só enxergam dois modelos econômicos: capitalismo x socialismo. Isso porque são as alternativas de que dispomos. Numa visão mais holística, penso que podemos ter um capitalismo com pitadas de aspectos sociais, cujo patrocínio pelo Estado fica evidenciado a sua necessidade, porquanto a iniciativa privada não tem a preocupação com a proteção social e só vê as coisas sob o prisma do umbigo de suas ambições pelo lucro e o alargamento da “mais valia”.
Pois bem, a necessidade de prostrarmos a bunda no sofá, não saindo às ruas pelas recomendações sensatas do pessoal que entende do assunto, possibilita-nos fazer coisas que não fazíamos sob a justificativa da escassez de tempo. Agora não, tempo e uma variável a nosso favor. Temos até demais.
Nesse cenário de isolamento, surge uma ideia de alguém iluminado, e com o fito de ajudar aos mais vulneráveis nesse momento que antecede a crise econômica que se instalará no País, começa a incentivar ajudas através do que se convencionou chamar de “LIVE”. Muito chique esse termo não? Em última análise, uma transmissão ao vivo de um evento.
O meu gosto musical nunca se acentuou com o estilo sertanejo e o forro estilizado. Entretanto, essa galera ganhou um admirador: este escritoreco. A rapaziada da atual geração musical saiu na frente e está fazendo bonito. Com lives bacanas e leves, eles estão promovendo grandes eventos com fins de ajudar as pessoas carentes a atravessar a tempestade do momento. Dirão alguns: “não estão doando o dinheiro deles e estão se promovendo visando dividendos lá adiante”. Que pensamento mesquinho não? Eu faço uma pergunta: o que estão fazendo esses que assim pensam para ajudar ao próximo? Talvez nada, a não ser reclamar de quem está fazendo. Reclamamos de tudo não é mesmo? Outros lacram: “não precisa ficar divulgando ajudas”. Claro que precisa! Que absurdo é esse? Ao divulgar ajudas solidárias estão acendendo a chama do humanitarismo, conclamando a todos a se engajarem em algum tipo de projeto de ajuda. Boas ações carecem de publicidade sim senhor! Precisamos estancar a nossa estupidez da interpretação ao pé da letra de alguns princípios bíblicos que são mal concebidos por alguns fundamentalistas que em nada contribuem para o bem estar social.
Tenho assistido a muitas lives e tenho notado a ausência de um grupo de artistas mais ao meu estilo, a exemplo dos astros da MPB. Por sinal, perdemos mais um hoje: Morais Moreira. Não os julgo pelas ausências e quero crer que ela se dá por conta da preferência musical do momento. Nossos artistas da musicalidade requintada foram, digamos assim, escanteados diante da preferência pelo efêmero. Tirar o pé do chão é a tônica.
Feita essa constatação, reitero a admiração que passe a nutrir sobre os astros do sertanejo, da sofrência, do pagode e do forró estilizado. Eles estão mandando muito bem nesse momento de carência de humanitarismo. Esperamos o engajamento da turma da MPB nessa atitude sublime.
Que venham mais lives solidárias, afinal, tempo é o que não falta!
Por JOSÉ RICARDO 13.04.2020
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