Historiador José Octávio lembra obras de Juracy Marques Ferreira sobre a história de Sapé
O obituário de A União de 4 de abril de 2025 referiu o falecimento de Juracy Marques Ferreira, natural de Sobrado, como bacharel pela UFPB, servidor do judiciário e professor do Colégio Estadual de Sapé, onde também se tornou vereador e vice-prefeito, além de prefeito interino.

O que não se proclamou foi sua autoria de um dos melhores estudos do poder local paraibano, no caso ‘O Processo Histórico de Sapé’ 1757-2012, editado pela Ideia em 2013.
Por essa e outras criações passei o sábado, 15 de julho de 2012, inteirinho com Juracy para discussão dessa e outras produções de sua lavra.
E não me arrependi. ‘O Processo Histórico de Sapé‘ constitui estudo de categoria até porque as 433 páginas principiam pela estrutura do povoado que, no século 18, quando da incorporação da Paraíba a Pernambuco, entre 1757 e 1799, integrava a capitania de Taipu sendo as duas outras Mamanguape e Piancó.
Com isso, e graças ao apoio do presidente do Estado, João Suassuna, vitorioso sobre Otácilio de Albuquerque em 1924, Sapé prevaleceu sobre o Espírito Santo, do coronel Cazuza Trombone, com seu engenho Massangana. O comando sapeense pertenceu ao esclarecido coronel Gentil Lins que, melhorando as comunicações e neutralizando os cangaceiros de Antônio Silvino, valorizou conselhos municipais à época existentes também nos distritos.
Dotado de colônia italiana que alinhou o engenheiro José Calzavara, autor da planta de moderno mercado e largas avenidas, Sapé notabilizou-se por casarões que resistiram ao tempo. Enfrentando o ímpeto predatório dos Ribeiro Coutinho que, a certa altura, eliminaram o distrito de São José da Cachoeira, o município teve seu tempo áureo, entre 1958 e 1964, com as Ligas Camponesas.
Notório simpatizante destas, que contracenavam com cinturão de engenhos e culturas de fumo, abacaxi, inhame e batata doce, Juracy assinala que o presidente João Gulart não veio para inauguração do posto médico do Samdu, em 1962. Em compensação, o candidato e ex-presidente Juscelino Kubitschek visitou a cidade, por duas vezes, em 1955 e 1963. Sapé também recebeu o candidato populista Ademar de Barros na campanha presidencial de 1960.

O que ‘O Processo Histórico de Sapé’ 1757-2012 deixa claro é que, desde a administração municipal do coronel Oswaldo Pessoa, Sapé não constituiu cidadela da UDN da Usina Santa Helena. O partido que ali predominou, em aliança com as Ligas Camponesas de Ivan Figueiredo e Nego Fuba, foi o PSD a que coube reprimir as felonias do comendador Renato Ribeiro.

A questão aparece em outro livro de Juracy Marques – Sobrado dos Meus Ancestrais (s/d). Apoiada na história oral de Antônio Unias, a monografia ressalta o papel de “pacificador” do líder camponês João Pedro Texeira e, após seu assassinato, em abril de 1962, o antológico discurso de Raimundo Asfora, em concentração estudantil no Ponto de Cem Réis.
Riachão do Poço – Das Sesmarias a Município 1780 a 1997 (2011) e Sobrado – O Velho Cartório da Paz (2015), intitulam-se dois outros títulos de Juracy Marques Ferreira. Enquanto Riachão do Poço desponta como o mais familiar e personalista de seu universo, o Velho Cartório da Paz expressa técnica de pesquisa já enunciada no anterior.
Com efeito, valorizando as sesmarias, Juracy Marques percorre, com autoridade, a trilha metodológica de Ireneu Joffily, João Lyra Tavares, Wilson Seixas e Jerdivan Nobrega.
- Texto publicado no Jornal A União de 21 de outubro de 2025.

– Por José Octávio de Arruda Mello
Professor, jornalista, escritor e historiador, José Octávio de Arruda Mello nasceu no dia 28 de março de 1940, em João Pessoa.
Fotos: Arquivo do Portal GPS
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