Por José Ricardo (Reedição 04.06.2016)
Revendo os textos que escrevi até então me deparei com este que considero bem atual e reflete o momento político que experimentamos. Por isso resolvi trazê-lo à luz da discussão madura e respeitosa. Outros pensamentos serão respeitados neste espaço, entretanto as cutucadas desdenhosas e as estultices serão refutadas e excluídas, pois não queremos conviver com iniquidades, nem criar espaço para o vazio.
Tive que gostar de política por imposição das circunstâncias. Vou tentar explicar melhor. Escrevi outro dia e ficou no ar: “O “isentão” goza de algumas vantagens e desvantagens. A vantagem: agrada gregos e troianos. A desvantagem: desagrada troianos e gregos”.
Entendo que para gostar de política você não precisa, necessariamente, acostar-se a um partido. Costumo dizer que um partido é um embrião da coalisão nefasta do auto interesse. A expressão “tomar partido” tem conotação de defesa de algo, mesmo não sendo útil.
Então, com esse pensamento, assumi a cadeira da isenção partidária, tornando-me um autêntico centro esquerdista moderado. “Nem tanto ao céu nem ao inferno”. O sol nasce para todos.
A posição de isenção que assumimos desestabiliza um pouco o emocional dos radicais das alas predominantes, esquerda e direita. Isso porque ninguém aceita “mexer no seu queijo”. Vivemos uma alternância de Robins Hoods sem precedentes. Uns se sentem oprimidos e explorados, em seu entendimento, outros lesados pela farta distribuição de renda sem um motivo justo, na concepção deles. A meritocracia é o que importa. As escolas de Adam Smith e Keynes estão povoadas de alunos deslumbrados e donos da razão.
Se pararmos para usar um pouquinho o raciocínio lógico, chegaremos à triste conclusão que ambas as correntes se completam na busca incessante dos seus prosélitos seculares.
Portanto, quando falamos sobre as vantagens e desvantagens dos isentões, queremos expressar o risco calculado que assumimos, quando nos posicionamos com equidade sobre assuntos diversos, pois, com certeza não iremos agradar a todos. O que eu escrever hoje pode ser lido pela metade do “meu eleitorado” e desprezado pela outra metade. Isso vai depender da simpatia pelo conteúdo da escrita.
Sigamos em frente e façamos uma descabida comparação dos dois (mesmos) governos do nosso Brasil. O primeiro, beneficiado por uma década e meia no poder, assume o propósito da vingança e apresenta a falsa ideia de que é o governo dos pobres. Só usa essa prática das benesses como para criar uma cortina de fumaça para os seus reais propósitos: criar condições para uma auto sustentação de poder econômico, implantando no País uma rede de corrupção muito mais contundente de que a máfia siciliana. Foram longe demais. Enfim a casa caiu. PT e PMDB tiveram suas máscaras desnudadas.
Sem conseguir fugir do estigma da corrupção, a direita neoliberal se infiltra no poder provisório e começa a colocar suas manguinhas de fora. Ignorando o estado de calamidade que vivencia a nossa economia, encabeça o apoio aos pacotes de bondades a determinadas classes na ânsia de conseguir a proteção futura para os seus delitos políticos, onde a lógica que prevalece é a ideia de tornar o capitalismo o centro de tudo. O Estado se afastando do mercado, o empresariado assumindo o controle dos meios de produção e distribuindo migalhas com um regador de furos estreitos. Podemos ensaiar que estamos no fim do aparelhamento petista e podemos ingressar no aparelho do capitalismo rentista financeiro, que nada produz, a não serem lucros exorbitantes para uma pequena parte da sociedade (os ambiciosos barões).
Tive que gostar de politica por imposição das circunstâncias. Sei que alguns pretendem bater panelas e mostrarem seus lindos rostos pintados nas avenidas, em verdadeiros desfiles de hipocrisias, proferindo palavras de ordem (não sei de que ordem). Têm todo direito. Porém, também tenho o direito de questionar: ao ir às ruas defender, com bandeiras verde-amarelas, hipotecando o seu apoio a causas do obscurantismo, da segregação, da exclusão social, do apartheid à brasileira, da sede do extermínio, com sangue nos olhos e pedra no coração, engolindo a saliva amarga da inconsistência crítica, você estará contribuindo com alguma coisa positiva para a humanidade? Defendemos as reivindicações através de atos públicos desde que eles sejam racionais e alinhados com a lógica e a sanidade. Fora desse contexto, entendo tratar-se de atitudes sem conteúdo, servindo apenas para alimentar o seu ego perdido e desorientado.
Mudar esse estado de coisas não interessa. Deixa assim. Hoje eu, depois você e “assim caminha a humanidade”.
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